sexta-feira, 11 de novembro de 2016

"Folheando meus arquivos" encontrei este texto que enviei à revista Istoé como protesto a uma série de artigos falando sobre Jesus. Eles ficaram de consultar especialistas, e me dariam uma réplica. Resposta esta que nunca recebi.

CARTA ABERTA A REVISTA ISTO É. 
CORREÇÃO DO PROF. AZENILTON BRITO
Por
Evandro Luiz da Cunha

Crítica a Edição 1629 de 20/12/2000. http://www.terra.com.br/istoe/

Matéria de capa: 2000 ANOS DE JESUS CRISTO.


            Primeiramente, queremos congratulá-los pela iniciativa de publicar um tema tão antigo e tão polêmico como a figura de Jesus.
Após a leitura dos artigos sobre 2000 ANOS DE CRISTO, gostaria de fazer algumas ponderações:
1.        UMA DISTINÇÃO FUNDAMENTAL: Cremos que um dos grandes lapsos cometidos por historiadores, teólogos e demais pesquisadores do fenômeno cristão é amalgamar dois conceitos fundamentais: a distinção entre CRISTIANISMO BÍBLICO (a pessoa e atos de Jesus Cristo e apóstolos, como registradas na literatura canônico–bíblica. Marcado pelo carisma) e o CRISTIANISMO HISTÓRICO (como esse registro bíblico foi interpretado e vivenciado através da história, seja na forma de catolicismo, ortodoxismo ou protestantismo e demais experimentos cristãos–marcado pelo institucionalismo e pelo jogo do poder).  Alguns marxistas hodiernos costumam declarar que Marx ficaria escandalizado com o que os soviéticos e outros camaradas chamaram de “socialismo”.  Ou seja, segundo eles há uma dicotomia entre o que Marx ensinou e como os marxistas leram seus escritos. O mesmo se pode afirmar de Jesus Cristo e o cristianismo histórico (ideologia a serviço de uma elite que dominou e domina em nome de Deus – os mercadores do sagrado).
2.        AFIRMAÇÕES INTRODUTÓRIAS: Na Cronologia do Cristianismo aparece duas declarações que não se harmonizam nem com o relato bíblico nem histórico: (a) que Jesus cria na imortalidade da alma – embora seja uma crença grega (Platônica) que foi introduzida por Agostinho 4º-5º AD e adotada oficialmente pelo Cristianismo Histórico.  Teólogos contemporâneos como John Stott tem concluído que essa doutrina é estranha aos ensinos do Cristo bíblico. (b) Que Pedro se tornou o primeiro bispo da Igreja de Roma.  Dificilmente um historiador sério faria esse tipo de afirmação.
3.        A OBJETIVIDADE DOS ARTICULISTAS:  Percebemos que os autores dos artigos em sua maioria são liberais.  Onde ficou a neutralidade científica (que após a leitura fui forçado a crer que não existe) da revista?  Se o objetivo era polemizar, como discutir com pessoas que crêem a mesma coisa?  Quem sabe a dialética hegeliana (tese, antítese e síntese) nos ajudasse nesse aspecto.  A ausência de teólogos conservadores deu a impressão que a meta não era informar, mas catequizar.  Além do mais, os editores olvidaram que muitos dos pensadores na atualidade, estão mais compromissados com o Modismo Teológico do que com a epistemologia do fenômeno religioso.  Por exemplo, o movimento feminista inspirou a Teologia Feminina, os movimentos negros a Teologia Black, as questões sociais da América Latina a Teologia da Libertação, que por sua vez é filha da Teologia da Esperança, Teologia da Morte de Deus, etc.. Recentemente, o movimento gay tem reivindicado sua Teologia.   Tomemos como exemplo, dois articulistas que falaram tanto de revoluções, opressão dos oprimidos, etc.- Leonardo Boff e Rubem Alves.  O primeiro não escreve mais sobre a Teologia da Libertação.  O revolucionário marxista, agora é guru do pensamento positivo – místico.  A revolução não é mais dos sistemas, mas do homem em sua interioridade.  É verdade que ainda fala de fome e  injustiça social, porém com um discurso moderado;  o segundo se dedica a área de educação (escrever e ensinar). Onde está a militância?  Foi superada pelas exigências da sobrevivência.  A onda agora é Padre Marcelo, Bispo Macedo e Paulo Coelho.  A  revolução deu lugar à religião.
4.        A METODOLOGIA ADOTADA:  Voltamos mais uma vez à questão do mito da neutralidade e honestidade científicas.  Todo campo do saber possui uma metodologia específica para seus objetos fenomênicos.  Não devemos estudar matemática tendo como orientação uma gramática.  A religião é um campo onde a fé é quem impera, e não a lógica.  Como observou Boff in loco: “O cristianismo é menos algo para se compreender intelectualmente do que para se viver afetivamente” (p.71).  Mesmo pensadores como Tomás de Aquino, que cria que a Razão e a Revelação eram duas fontes de verdades fidedignas, quando em conflito a Revelação teria a primazia.  O Cristianismo Bíblico, embora não seja um fideísmo, nunca reivindicou para si status de filosofia, ciência, muito menos de registro histórico meticuloso.  “As Escrituras são contraditórias e incompletas. Na Verdade, mais simbólicas do que documentais” (p.60).  Acusar os textos canônicos de contradições é desconhecer a natureza de tais textos (tenho dúvidas que todos os articulistas já leram na íntegra, os sessenta e seis livros da Bíblia).  Ainda sobre contradições, se o argumento que as contradições invalidam a autenticidade e credibilidade de um texto, os grandes pensadores estariam em maus lençóis.  Contradições existem em Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Kant, Hegel, Nietzsche, Marx, Darwin, Freud, etc. Por fim, nos próprios artigos em apreço.  Se queremos encontrar contradições e inconsistência em um autor, é só ler os que discordam dele.  
Quanto à historicidade de Jesus, não apenas ele, mas muitos personagens antigos tiveram sua existência posta em dúvida. Como, por exemplo, Sócrates. Alguns crêem que ele é uma criação de Platão. Se compararmos a documentação na história secular entre Sócrates e Jesus Cristo, veremos que o Galileu leva vantagem. Basta citar Cornélio Tácito (52-54-AC), Suplício Severo, Luciano de Samosata, o historiador judeu Flávio Josefo (37 AD) em antiguidades xviii.33, afirma: “Por essa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabia-se que era uma pessoa de virtudes...” (versão árabe).  Poderíamos citar outras fontes extra bíblicas como, Suetônio (120 AD), Plínio Segundo, o Jovem, Talo, o historiador Samaritano que escreveu em 52 AD, etc.. Como ponderou Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que possa julgar a nossa vã filosofia” (Hamlet). 

Antecipamos nossos agradecimentos pela atenção,

Pr. Evandro Luiz da Cunha


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

DONALD J. TRUMP, UM GRANDE LÍDER
By Pr. Evandro L. Cunha (Ph.D) – especialista em Ética e Política pela Universidade Federal de Alagoas.
 
Talvez ele não consiga ser um grande político ou estadista. Mas sem sombras de dúvidas é um grande líder. O conceito de liderança é algo aético. Enquanto o da política, desde a antiga Grécia, nasce amalgamado à ética. Entretanto, gostaria de deixar em suspenso os aspectos éticos e políticos, e concentrar-me na figura do líder como mentor de um processo polêmico e complexo. Por este ângulo, Trump deu sinais de uma força intrínseca fantástica e fascinante. Manteve o seu discurso politicamente incorreto até o fim da campanha. Enfrentou as previsões “científicas” e políticas de sua derrota com resiliência. Soube administrar com sabedoria e sobriedade as acusações contundentes contra ele. Como empreendedor transformou a fortuna da família num império financeiro [embora as evidências históricas demonstrem que dificilmente alguém realize uma proeza como esta sem ferir princípios éticos]. Mas em todo, muitos milionários fracassam por não saber administrar suas fortunas. Vendeu a imagem de um patriarca que defende com unhas e dentes os valores da família, com tanta eloquência que suplantou sua fama de playboy. Ousou olhar nos olhos dos adversários sem demonstrar fraqueza, mesmo quando o quadro não lhe era favorável. Podemos questionar seu modus operandi, mas fomos forçados a admitir que estamos diante de um grande líder capaz de realizar algo tão grandioso ou assustador quanto Mussolini ou Hitler – ambos eleitos por processos democráticos.
Como adventistas devemos evitar discursos escatológicos populistas. Lembremos que apesar de tudo, os republicanos (conservadores, tradicionalistas, etc.) defendem valores muito mais próximos aos adventistas que os democratas (liberais). Talvez isso explique, de forma simplória, o apoio do adventista Ben Carson a Trump. 
É imaturo criticar os processos democráticos quando estes não realizam os nossos sonhos políticos. Os Estados Unidos da América ainda são um exemplo de democracia para o mundo. Eles escolheram o que acharam melhor, assim como nós elegemos Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma -  só agora somos capazes de deduzir onde acertamos e onde erramos. Por isso, é prematuro “profecias políticas escatológicas”. É tempo simplesmente de dizer: “parabéns Presidente! O senhor demonstrou ser um líder fantástico”. 
O show está apenas começando.

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