segunda-feira, 24 de março de 2008

A FACE FEMININA DE DEUS

Evandro L. Cunha
Doutorando em Teologia

O criticismo tem acusado a religião de ser o fruto de uma projeção psíquica[1] ou um convencionalismo cultural e filosófico[2]. Mesmo para os mais ortodoxos dos pensadores a imaginação do homem desempenha um papel fundamental na construção desta imagem da divindade[3].
A pergunta não é: quem é Deus? Mas como Ele é? Diversos mecanismos psíquicos, biológicos e culturais podem interferir na idéia que temos de Deus. A razão instrumental sozinha é inoperante para abarcar toda a complexidade do Mistério Deus. Saulo de Tarso já afirmara: “Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante [hómoion] ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte [technês] e pela imaginação [`enthüméseus] do homem” (Atos 17:29)[4].
Se no paganismo a imaginação tentou materializar a divindade (idolatria), na tradição judaica-cristã a divindade foi reduzida à figura do masculino. Deus é um homem. O feminino encorpou a figura do mal. Mas o que diz a Bíblia?


DEUS: Transcendência e Imanência

A antropogênesis bíblica narra a Divindade projetada no homem. Enquanto na mitologia pagã as divindades eram deuses com atributos de homens, na tradição cristã a humanidade espelha os atributos divinos. Embora reconheçamos o antromorfismo lingüístico contido na prosa, a revelação nos oferece uma pista para desvendar o mistério da personalidade de Deus[5].
Como é Deus? Essa pergunta pode parecer infantil, mas é uma das mais complexas para a Teodicéia e para a Teologia[6]. O Decálogo condena o tornar concreto o Abstrato e visível o Invisível (Êxodo 20:4-6). “A tentativa de representar o Eterno por meio de objetos materiais, rebaixaria a concepção do homem acerca de Deus. A mente, desviada da perfeição infinita de Jeová, seria atraída para a criatura em vez de o ser para o Criador. E, rebaixando-se suas concepções acerca de Deus, semelhantemente degradar-se-ia o homem”[7]. A proibição era explícita: não correr o risco de ser desfigurado pela contingência humana. Por isso, desde cedo o povo da aliança aprendeu a pensar no Invisível em termos metafísicos[8].
Como adorar um Deus que não podemos vê-Lo? Ele poderia ser ouvido, sentido, mas não visto. O Invisível idealizou uma forma de ser melhor percebido ou “visto”. Estabeleceu duas maneiras pelas quais os adoradores poderiam se apoderar delas e mentalizar a pessoa de Deus: a phisis (a natureza) e o antropos (o homem).
Através da natureza seria possível chegar a deduções sobre a bondade, justiça e santidade de Javé (Romanos 1 e Salmo 19)[9]. Esse conhecimento empírico deveria nortear o comportamento humano elevando seus conceitos éticos e morais. Na natureza, a Divindade é desnudada como fonte originadora da criação, relacionada com ela, mas ao mesmo tempo distinta (imanente e transcendente). A não distinção induziu algumas culturas a vê-Lo amalgamado com a criação – Panteísmo[10].
Além dos elementos estéticos da natureza, Deus criou a humanidade para Se tornar visível – Imagem e semelhança (Gênesis 1 e 2). Não seriam necessárias as técnicas dos artesãos para materializar o Invisível. Como observou Jack Miles, “Deus faz o mundo porque quer a humanidade, e quer a humanidade porque quer uma imagem”[11]. Quando os filhos perguntassem aos pais: “como é Deus?” Os pais poderiam responder: “contemplem a natureza e olhem ao seu redor, nós os humanos somos a imagem de Deus”. E como Jesus[12], afirmariam: “Quem nos vê, vê o Pai”. Como ponderou Mario Veloso, “a única imagem de Deus que existe na criação é o homem. Por esta razão também Deus proibiu que o homem fizesse para si esculturas ou imagem alguma de Deus, pois somente o homem pode representar a imagem e a figura de Deus na terra”[13].
Sendo a humanidade o aspecto revelacional-visível, o assassinato era uma agressão ao próprio Deus, por isso o “Não Matarás” (Êxodo 20: 13). O mesmo poderia ser dito sobre a infidelidade que é conceituada como um desagravo à pessoa humana e uma perda da visão holística da realidade. Pelo prisma que a vida é uma grande rede de conexões, o Decálogo não poderia ser entendido como imperativos isolados. Na arqueologia da violência estaria “não cobiçarás” (desejo intenso)[14] para frear os instintos não santificados da psique humana. Só Deus poderia ordenar a execução de um ser humano por ser Ele o autor e mantenedor da vida. A Ética da Vida[15] apregoada por Albert Schweitzer era o modus vivendi de Adão e Eva. A natureza era idealizada como casa primeva (Gen 1:28 e 2:15). Os fundamentos de uma ecologia foram lançados: sujeitar, cultivar e cuidar[16]. A relação homem-natureza era mediatizada não pelo conceito de exploração dos recursos naturais, mas como interdependência ôntica. O Adam (homem genérico) sabia que sua origem material estava na Adamah (terra). O mundo edênico era um todo perfeito, harmonioso e interconectado – era uma teia de relações intercambiáveis. Mesmo na realidade pos-lapsariana, percebemos que “da física quântica e da cosmologia contemporânea sabemos que a lei mais fundamental do universo não é a competição e o triunfo do mais forte, mas sim a sinergia e a cooperação de todos com todos. Tudo está urdido por uma rede incomensurável de relações energéticas e materiais. Tudo tem que ver com tudo, em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Nada nem ninguém pode viver fora destas relações”[17]. Adão desfrutava de forma plena desse estilo de vida. O homem era um elo que incorporava o Imanente (natureza) e o Transcendente (Deus) – isso foi expresso no relato de sua criação. Ele tem em sua estrutura constitutiva elementos naturais (terra) e sobrenaturais (sopro de vida).


A IMAGEM DE DEUS: Homem-Mulher

Embora haja uma polêmica milenar em torno do que seria exatamente a imagem de Deus no homem[18], há um consenso de que essa imago dei é composta pelo homem e pela mulher[19]. Monique Hébrard, especula: “A palavra ish, ‘homem’, se escreve com as letras aleph, yod e shin; a palavra isha, ‘mulher’, se escreve com as letras Aleph, shin e he. Observamos que homem e mulher possuem duas letras comuns e uma diferente: o yod para o homem e o hé para a mulher. São essas as letras que encontramos no tetragrama YHVH: yod, he, wav, he. Portanto, YHVH [nome para Deus em hebraico] reflete exatamente o masculino e o feminino”[20].
Uma nota de roda pé (comentário) de uma edição da Torah [Pentateuco] em português trás uma curiosidade lingüística sobre o tema: “Quando Deus criou o primeiro homem, Ele o chamou de Ádam, mas depois de dar-lhe a sua companheira, Ele o chamou Ish (esposo) e a ela de Ishá (esposa). O Altíssimo colocou nele Seu Nome Iá (a letra Iod יּ em Ish, אּיּש, e a letra Hê הּ em Ishá, אּשהּ), dizendo: ‘Se eles andarem nos Meus caminhos e observarem os Meus mandamentos, Meu Nome estará com eles; Eu os preservarei dos males e das aflições. Caso contrário, Eu lhes retirarei Meu Nome e serão um para o outro Êsh אּש, um fogo devorador’”[21].
Deixando os aspectos especulativos e fictícios destas interpretações, elas reforçam a idéia de que não podemos pensar em Deus em termos meramente masculinos. Ellen G. White, defende que: “o homem deveria ter a imagem de Deus, tanto na aparência exterior [estética] como no caráter [psico-espiritual]”[22]. Por “aparência exterior” inferimos não um reducionismo sexual – macho e fêmea, mas um princípio de complementaridade. O homem só poderia expressar sua semelhança com Seu criador num processo associativo psicossomático. Adão reconheceu isso quando exclamou: “essa é osso de meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada de mulher, pois do homem foi formada” (Gên. 2: 23). A analogia bíblica é perfeita. Assim como o homem genérico é semelhante a Deus, isso não significa igualdade absoluta, o mesmo princípio pode ser aplicado aqui, ou seja, semelhança não é sinônimo de igualdade. O clamor do Movimento Feminista é exatamente esse: “direitos iguais porque somos iguais”. Desta forma a imago dei é distorcida pelas pressões sociais. Uma das grandes inconsistências hermenêuticas foi considerar o homem e a mulher iguais. Em termos ontológicos têm o mesmo valor, mas na dimensão existencial são diferentes não apenas anatomicamente, como também socialmente – seus papeis são singulares[23]. A imago dei não poderia ser refletida em atitudes egoístas, nem dominadoras, e sim, em submissão e entrega mútuas. Separados eles seriam imagens pálidas da Divindade. O que estamos querendo dizer é que na antropologia do Gênesis a imagem de Deus é homem-mulher. Nem mesmo o lapso adâmico, pecado original, destituiu essa imagem – maculou-a mas não a anulou totalmente (Gen 5:1-3 e Tiago 3:9)[24]. A humanidade entrou num processo degenerativo como conseqüência do pecado. No homem foi enxertada uma “nova” natureza – a pecaminosa (Rom 3 e 7).


O FEMININO DESFIGURADO

Como conseqüência desta natureza pecaminosa, a mente humana sofreu desajustes que anuviaram a verdadeira concepção do feminino. O que estava em pauta não era apenas um processo degenerativo psico-somático-social, mas havia se instalado uma rebelião espiritual[25]. Por duas vezes em Gênesis se afirma que a imaginação do homem foi afetada drasticamente pelo pecado[26]. Isso logicamente implica que a cosmovisão do homem foi alterada do seu estado de inocência. A imago dei estaria sujeita a distorções tanto no paganismo como na tradição judaico-cristã.

No paganismo, o feminino foi desvirtuado em duas vertentes: como objeto de prazer e como incorporação da divindade[27]. Na liturgia cotidiana das culturas antigas o sexo e a religião estavam intimamente associados. A mulher personificava esses dois desejos de superar a realidade imediata. Logo, o feminino era idealizado como “campo fértil”. Essa conceituação é oriunda da sociedade agrária, onde a terra era vista como um corpo o qual os deuses coabitam. Por isso, era possível a fertilização. Percebe-se que termos como semente era relacionado com o sêmen e sua correlação com semeadura. Mircea Eliade observa que nos cultos à fertilidade “a orgia ritual em favor das colheitas também tem um modelo divino: a hierogamia dos deuses fecundador com a Terra-Mãe”[28]. A emancipação pagã feminina eclodiu no ritualismo orgiástico, onde o sexo era um instrumento de adoração. No imaginário coletivo, a figura da mulher possuía um caráter cósmico. Hodiernamente, essas idéias foram ressuscitadas pelo movimento New Age (Nova Era)[29], ecologistas e espiritualistas. A exploração do sexo (com ares de sacralidade), o movimento feminista e até mesmo a inclusão das mulheres (mesmo lésbicas) no sacerdócio[30] reflete o renascimento de um feminismo desfigurado da imago dei[31]. A ideologia pagã conceituava a mulher de forma negativista. “Platão, por exemplo, afirmava que não existia lugar para a mulher que até sexualmente os rapazes eram preferíveis às mulheres. Sócrates ignorava a mulher por completo, como se ela não existisse. Para Eurípedes, a mulher era ‘o pior dos males’. Para Aristóteles, que foi o inspirador de Santo Tomás e que influenciaria toda a filosofia e a teologia ocidental, a mulher ‘tem uma natureza defeituosa e incompleta’. (...) E até Cícero escreveu que ‘se não existissem as mulheres, os homens seriam capazes de falar com Deus’”[32]. Essa inferiorização do feminino no Mundo Antigo, principalmente grego, contribuiu para promover o homossexualismo[33] e uma arte masculinizada, como observou Ortega y Gasset: "A Vênus de Milo é uma figura másculo-feminil, uma espécie de atleta com seios. (...) O cânone da arte grega ficou inscrito nas formas do moço desportista, e quando isto não lhe bastou preferiu sonhar com o hermafrodita"[34].

O Judaísmo extra-bíblico, ou seja, as tradições e costumes que os judeus adotavam como estilo de vida, tinha como fonte uma leitura patriarcal dos textos sagrados como também concessões feitas de forma subjetiva ao feminino desfigurado do paganismo. Isso gerou um judaísmo opressor:
· Era considerada inferior ao homem e sempre associada de forma pejorativa a escravos e crianças.
· “Era até proibido a uma mulher oferecer um sacrifício (colocar a mão sobre a cabeça do animal sacrifical, etc., Lv 1:4; 3:2; Mishna Menachoth 9:8). A única importância que ela tinha era como dona de casa e esposa”[35].
· Os judeus oravam agradecendo a Deus por não ter nascido mulher.
· Não podia conversar com um homem na rua, mesmo sendo seu esposo.
· Só podia sair de casa com o consentimento do marido, pai ou irmão mais velho e usando o véu. As que viviam no campo se sentiam mais libertas dessas regras.
· Tinha que conviver com a poligamia do esposo.
· O acesso à educação era exclusividade dos homens. Alguns achavam que era melhor queimar a Lei do que ensiná-la a mulheres.
· Sua palavra não era digna de confiança, por isso não poderia depor como testemunha.
· Na sinagoga e no templo se mantinham caladas e separadas dos homens.
· Se fosse estéril era descriminada pela sociedade e tida como amaldiçoada.
· No ato do casamento era tida como posse do marido.
· O casamento era arranjado pelos pais.
· Tinha que trabalhar no campo, cuidar da casa e dar assistência à família.
· Apenas nas festas litúrgicas desfrutava de uma certa “liberdade”.
· Podia ser vítima fácil de artimanhas de maridos que forjavam motivos para o divórcio, tais como: queimar a comida e não agradar ao marido[36].
Essa teologia da inferiorização da mulher estava fundamentada numa hermenêutica distorcida de Gênesis 3:15 (“...o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”). Não é objetivo nosso fazer uma exegese do texto mencionado, mas apenas contextualizar teologicamente as origens primeiras desse imperialismo do macho que afeta até mesmo a concepção de Deus. Na literatura do Antigo Testamento verificamos diversas variações de procedimento quanto ao feminino. De um papel mais ativo à agente passivo. Os textos sapienciais louvam os atributos da mulher virtuosa e condenam a leviana[37]. De qualquer forma a figura da mulher será aviltada por uma teologia superficial e arrogante. Esse desenlace atinge níveis degradantes, a tal ponto que no judaísmo do tempo de Jesus a mulher deixou de ser imagem de Deus e passou a ser uma mera sombra do homem.

No Catolicismo, o feminino não escapou do paradoxo bem-mal. Os Pais da Igreja, em sua maioria, conceberam a mulher como o mal camuflado. A influência platônica e gnóstica atribuíam ao feminino o dualismo dialético – a matéria má versus espírito bom[38]. Para alguns teólogos medievais a mulher não participava de forma original da imago dei. Ela seria imagem do homem, e não imagem de Deus: “Graciano, no século XII, em seu famoso Decreto, principal fonte jurídica para o Direito Canônico até os dias de hoje, citando frases atribuídas a S. Agostinho e a Santo Ambrósio (Ambrosiaster) escreve: ‘Esta imagem (de Deus) está no varão como criação única, origem dos demais humanos; ele recebeu de Deus o poder de governar como seu substituo porque é a imagem de um Deus único. Por esta razão, a mulher não foi feita à imagem de Deus’”[39]. Elas ainda foram comparadas, negativamente, às crianças e aos debilóides[40]. Tertuliano taxava a mulher de “porta do Diabo”. Para Clemente de Alexandria “todas as mulheres deveriam morrer de vergonha só de pensar que são mulheres”. João Crisóstomo a depreciava de “animal selvagem”. A mulher, na visão de Gregório de Nisse, era incapaz para os estudos. São Jerônimo foi mais além quando defendia que, se uma mulher se manter virgem e servir a igreja, “ela deixa de ser mulher, e será chamada homem”[41]. Para o Padre Vieira “as mulheres deviam sair de casa em apenas três ocasiões: para o batismo, para o casamento e o próprio enterro”[42].
Concomitante a essa postura antifeminino, o catolicismo a semelhança do paganismo, desenvolveu uma divinização do feminino ao exaltar os atributos espirituais da Virgem Maria. Essa tensão urdirá todo o tecido católico medieval. Mais uma vez platonismo, aristotelismo e gnosticismo induzirá a hermenêutica católica. Se por intermédio de Eva veio o pecado e ruína, através de Maria o Verbo se fez carne – nascido de mulher (João 1:14 e Gálatas 4:4). No catolicismo o feminino incorporou essa dualidade ôntica e axiológica: a dialética Eva-Maria alimentou os paradoxismos teológicos até os dias atuais. Apesar dos avanços do Movimento Feminista nos átrios romanos, o catolicismo ainda não conseguiu a emancipação absoluta dessa herança medieva. A mulher é genitora do pecado e mãe de Deus ao mesmo tempo. Hans Küng, esclarece que esta postura antifeminina preponderante na liturgia católica, desenvolveu-se concomitantemente com a estrutura hierárquica influenciada pela visão de mundo dos gregos via os pais da igreja[43].

No Protestantismo Clássico, a situação não foi muito diferente. Os reformadores integraram o espírito da época. A descentralização da figura de Maria em sua liturgia corroborou à atitude antifeminina dos reformadores. Por outro lado, o não ao celibato de alguma forma valorizou a figura da mulher, mas parou por aí. Embora Martinho Lutero pregasse o sacerdócio de todos os santos, na prática a mulher estava excluída da liturgia oficial. O anglicanismo liberal também conhecido como Episcopal (ecleticismo de protestantismo, catolicismo e política) é uma corruptela da Reforma do século XVI. Igreja oficial da Inglaterra criada pelo rei Henrique VIII, que em 1534 rompeu com a Igreja Católica e a rainha ou qualquer outro monarca no poder exerce a função de chefe da Igreja. O anglicanismo admite mulheres como sacerdotes desde 1994. Recentemente, tem admitido lésbicas e homossexuais no episcopado. Em suma, o protestantismo histórico só veio se abrir ao papel de liderança da mulher na igreja após a morte dos reformadores. Isso significa que o feminino foi relativizado durante quase um século.

No Pentecostalismo e Neo-Pentecostalismo as mulheres têm exercido papel de liderança e até mesmo de pastorado, embora ainda carregue o estigma de sexo frágil e originadora do pecado. No pentecostalismo tradicional, as normas quanto à conduta feminina são bastante rígidas, enquanto no pentecostalismo mais liberal há mais flexibilidade na modéstia cristã. Devido à diversidade de ramificações destas correntes, fica difícil estabelecer um patrão comportamental no que diz respeito ao feminino nestas igrejas. No geral, elas seguem a mesma linha católica de sacralização e demonização da mulher[44].
Os arquétipos de Eva e Maria formam a individuação da mulher cristã hodierna. Isto é testificado pela produção literária voltada ao publico feminino[45].

No Mundo Atual, a figura da mulher evoca imagens paradoxais[46]. Desde as sufragetes inglesas às feministas hodiernas, o quadro é o resultado de processos dialéticos que partem da Revolução Francesa passando pela Revolução Industrial Inglesa, pelos movimentos abolicionistas americanos; seu envolvimento com os partidos de esquerda da Europa, pelo liberalismo sexual da década de 1960 (graças às teorias de Freud e outros), pelos avanços tecnológicos no campo dos anticoncepcionais e os milagres das cirurgias plásticas até a exploração do corpo feminino como produto mercadológico. Os marqueteiros têm afirmado que para se vender uma idéia ou um produto precisam evocar signos do mundo feminino.
No campo teórico, a Teologia Feminista esposa uma leitura da Bíblia pela ótica da mulher. Tem acusado a teologia tradicional como sendo preconceituosa e machista. O desfiguramento do feminino no mundo religioso e secularizado tem reduzido a mulher a mera imagem: de beleza, de luta, de autonomia, de maternidade, de erotismo, de resistência, etc.. A Teologia Feminista, subjetivamente, tem destacado o papel de Maria na reconstituição do verdadeiro valor da mulher. Essa teologia feminista por um lado tem tornado a rosto da mulher mais visível, mas ao mesmo tempo o tem desfigurado com premissas absurdas pro aborto e legalização de uniões do mesmo sexo.
Das humilhações que elas tem que passar no Afeganistão tendo que esconder seu próprio rosto (símbolo de sua nulidade), das mutilações[47] que sofrem na África (símbolo de sua inutilidade) até as explorações do capitalismo selvagem (símbolo de sua “utilidade”); o drama maior vivido por elas, e que tem gerado uma crise de identidade, é a multiplicidade de papéis que têm que desempenhar. Se no passado elas tinham que cuidar da casa e da família, hoje além destas atribuições foram acrescentadas outras sem que houvesse uma reengenharia de funções na família. As sobrecargas físicas e psicológicas têm desfigurado o feminino. Mas em contra partida, as mulheres conquistaram espaço e tem redesenhado a figura do macho com o advento do metrossexual[48] – uma espécie de sujeito que procura manter sua masculinidade, mas ao mesmo tempo introjeta valores femininos, como o cuidado com a beleza.


RESTAURANDO A IMAGO DEI

A teologia da submissão da mulher é um fenômeno pós-exílico ou do judaísmo tardio. Mesmo uma leitura superficial do Antigo Testamento, percebemos que a mulher apesar de viver num ambiente patriarcal, gozava de uma certa emancipação. “De tempos em tempos na história de Israel, as mulheres desempenhavam um papel de significância, e podiam até ser profetisas. É assim que se descreve Miriã, irmã de Moisés e Arão (Ex 15:20). Débora era uma profetisa que, segundo transparece, também julgava o povo (Jz 4:4). Deu uma comissão profética a Baraque, para este derrotar o exército de Sísera (Jz 4:6), e celebrou o triunfo com o cântico de Débora (Jz 5:1-31). Hulda, a profetisa, foi consultada pelo rei Josias num tempo de crise (2 Rs 22:14-20). Os contextos deixam claro que tanto Débora quanto Hulda eram mulheres casadas. As narrativas dos livramentos através de semelhantes profetisas indicam que ‘profetisa’ era mais do que título meramente de cortesia, dado à esposa do profeta (cf. Is. 8:3). Outras mulheres que desempenharam um papel de destaque na história, para o bem ou para o mal, foram Ester, esposa hebréia do rei persa Asuero [sic], cujas ações livraram o seu povo, e Jezabel, esposa do rei Acabe, que levou Israel a adorar a Baal (1 Rs caps. 18-22)”[49]. Na literatura veterotestamentária detectamos uma tensão axiológica quanto ao feminino. Essa tensão oscila entre valoração positiva e negativa.
Foi o fundamentalismo que emergiu depois do exílio babilônico o responsável por essa perversão teológica. A doutrina da submissão feminina é interpretada pelo Novo Testamento como um sinal de respeito, amor e fé nas promessas de Deus (Efésios 5:22-33 e I Pedro 3:1-7). Não queremos com isso ignorar que não houvesse todo um sistema que exaltava os atributos masculinos em detrimento dos femininos. Mesmo no ritual do Santuário onde a figura do macho era prevalecente, o feminino não estava totalmente ausente - as oferta de cabras, rolinhas e ovelhas, testificam isso (Lev. 1:14; 3:1; 4:28, 32-34). Nos textos sapienciais, o feminino é retratado com duas faces: a mulher perversa e a virtuosa. Javé condena a néscia e louva a prudente cujas ações é uma hipostatização do próprio Deus (Prov. 31).

Um Deus Pai que age como mãe. O Deus da Bíblia, ao contrário do que muitos crêem, era um Deus com fortes traços maternos. Devido tem-se revelado num contexto essencialmente patriarcal, muitas vezes se apresentada no Antigo Testamento com fortes traços masculinos – principalmente de guerreiro e legislador. Mesmo assim, não ocultou completamente Sua face terna, amorosa, sensível, etc.. Como vemos nos textos a seguir:
· Uma mãe que consola – (Isaías 66:13).
· Que ergue a criança até junto do seu rosto (Oséias 11:4).
· Incapaz de esquecer do filho de suas estranhas (Isaías 49:15 e Salmo 25:6 e 115:5).
· Possui um seio aconchegador (João 1:18).
· Compara-se a uma galinha tentando ajuntar seus pintinhos (Lucas 13:34).
· Assume um papel típico de mulher: enxugar as lágrimas (Apocalipse 21:4).
· O Logos de Deus incorpora a Sabedoria (Prov. 8).
Se realmente o feminino é tão importante para Deus, como responder a pergunta seguinte?

Por que o Messias encarnou-se no masculino e não no feminino? O Verbo se fez homem nascido de mulher (João 1:14 e Gálatas 4:4). Podemos conjecturar duas razões que justificam o Logos de Deus ter assumido o sexo masculino e não o feminino: Teológica e Sociológica. A primeira, parte do pressuposto que Eva ao pecar primeiro, caiu de status de igual e se inferiorizou-se. Adão passou representar o Salvador, embora ele mesmo (Adão) tenha pecado. O Messias Jesus incorporaria a figura do primeiro homem. Há alguns textos bíblicos que fundamentam essa tese: (Gen. 3:16, I Tim 2:13-15 e Rom 5:14). Essa “inferiorização” deveria ser encarada mais como uma metáfora do que como uma norma de conduta.
A segunda, crer que a sociedade teocêntrica e androcêntrica não havia espaço para um Messianismo feminino. Se o Verbo de Deus viesse em forma de mulher, geraria uma tensão que resultaria em conflitos sem precedentes. Além do mais, a expectativa de um Messias masculino era o fruto do profetismo clássico em Israel (Isaías 7, 9, 11 e 53; Jeremias 31; Miquéias 5; Daniel 9, etc).
Jesus é o novo Adão no sentido genérico (Romanos 5:14). O fato de não ter tido um relacionamento amoroso com o sexo feminino nem constituído família, leva-nos a crer que seu objetivo ao incorporar o homem não era dignificar esse ou aquele sexo, mas restaurar o ser humano em sua totalidade. Em Filipenses capítulo 2, Paulo afirma que Jesus “Sendo em forma de Deus não teve por usurpação ser igual a Deus . Mas aniquilou-se [esvaziou-se – kenóu] a si mesmo, assumindo a forma de servo...” (vs 6-7). Paulo faz um paralelismo forma de Deus (morphe theou) com forma de servo (morphe doulou). A ênfase aqui não é apenas na encarnação, mas ao serviço humilhante. Se a condição da mulher era igual ou semelhante a do servo, Ele assumiu a humilhação da mulher e estive submisso ao Pai como uma mulher estaria submissa ao seu esposo. Jesus Cristo vivenciou a doutrina da submissão até suas últimas conseqüências. Ele se esvaziou sem se anular. Serviu sem perder a dignidade. A opção pelo servo (o oprimido pelo pecado e pela sociedade) fez com que Ele valorizasse não apenas a mulher, mas todo o “oprimido do Diabo” (Atos 10:38).
O pecado, obra prima de Satanás, fez separação, criou divisão, confusão e caos. Jesus veio desfazer as obras do Diabo (I João 3:8). Neste processo de restauração dos valores edênicos, constava devolver à mulher seu proto-status: imagem e semelhança de Deus. Para levar a efeito esse projeto teve que escandalizar a sociedade de Sua época[50]. Jesus Cristo quebrou os paradigmas da época quando tratou a mulher com dignidade e amor. Ele tocou-as, curou-as, perdoou-as, discipulou-as e comissionou-as. “O profeta maldito [sic] de Nazaré intuiu que a mulher, mais do que o homem, é o símbolo mais visível do rosto compassivo e não vingativo de Deus. E, por isso mesmo, temível e perigosa para o poder. Jesus a defendeu contra os poderes. E elas, as mulheres, amaram-no mais que a ninguém, fiéis a ele até aos pés da cruz”[51].

O Novo Testamento e a doutrina da submissão da mulher. Não poderíamos deixar de fora a postura tão contraditória e polêmica do apóstolo dos gentios em relação à mulher. Se as declarações de Paulo em I Coríntios 11 e 14 e I Timóteo 2:8-15 não forem submetidas a uma rigorosa exegese, corremos o risco de concluir que os ensinos de Paulo se opunham aos de Jesus. Alguns querem atribuir essa atitude de Paulo a sua cultura judaica. Devemos lembrar, entretanto, que o apóstolo era um dos poucos seguidores de Jesus que era dotado de um ecleticismo cultural – não apenas falava vários idiomas, como conhecia bem o pensamento contemporâneo (Atos 17).
Não é objetivo deste artigo fazer uma investigação detalhada da teologia paulina acerca da mulher. Todavia, é nossa intenção esclarecer que se o corpus paulinus for considerado em sua totalidade, concluiremos que a postura de Paulo é aceitável e está em harmonia com os Evangelhos e os contextos vividos pelo apóstolo.
O silêncio da mulher durante o culto aconselhado por Paulo deve ser entendido à luz dos contextos[52]. Os literalistas, ou seja, aqueles que querem transpor o conteúdo bíblico ao pé da letra e aplicá-lo à realidade de hoje, terão que fazer o mesmo com outras porções da mesma verve de Paulo. Por exemplo: (1) O Paulo que condena o vinho, o recomenda a Timóteo (I Tim 5:23), (2) O uso do véu durante o culto (I Cor 11:1-16), (3) A situação do escravo (I Cor 7:20-24 e Filemon), (4) a saudação com ósculo santo (Rom 16:16, I Cor 16:20, II Cor 13:12 e I Tess. 5:26). É lógico que estes textos exigem de nós uma abordagem contextualizada. Quando a Bíblia é mencionada fora do seu contexto, deixa de ser Palavra de Deus e passa a ser palavra de homens e até mesmo do próprio Diabo (Mateus 15:1-9, II Pe 3:14-16 e Mat. 4:1-11)[53]. Para entendermos não o que, mas o porquê de Paulo ter dito isso, temos que adentrar nos contextos histórico-cultural, literário-lingüistico e teológico-espiritual dessas declarações. O espaço não permite explorar todas as nuanças e detalhes destes contextos. Mas uma leitura atentiva dessas passagens revela que Paulo estava enfrentando uma situação nova. No Judaísmo apesar das restrições impostas à mulher, a fala no templo não era totalmente impedida. Em Lucas 2: 36-38, afirma que a profetisa Ana quando reconheceu o menino Jesus como sendo o Messias, ela proclamava esta verdade no templo: “... Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (versos 37b a 38)[54]. O próprio Paulo em I Coríntios 11:5 recomenda que a mulher ore ou profetize que o faça coberta com um véu. Em Atos 21:8-9, Lucas mais uma vez relata mulheres profetizando. Na casa de Filipe em Cesaréia, “tinha este quatro filhas donzelas, que profetizavam” (verso 9)[55]. Tendo uma vista que a igreja primitiva não possuía templos, era muito comum as casas se tornarem local de adoração (Rom. 16:5; I Cor. 16:19 e Col 4:15). Logo, o feminino desempenhava um papel vital no processo de edificação espiritual da igreja.
Com a expansão missionária, o cristianismo enfrentou diversas situações desafiadoras[56]. A missiologia cristã se deparou com um mundo novo e com uma mentalidade bem diferente daquela onde nasceu. Como já foi exposto, os contrastes eram gritantes entre a situação da mulher em Israel e nas outras nações. Como era de se esperar, quando o cristianismo chegou a essas regiões, principalmente fora do Oriente Médio[57], as tensões eclodiram. Paulo procura com muita sabedoria e bom senso administrar essas situações. As mulheres que vinham da cultura helênica desfrutavam não apenas de uma certa emancipação, como também de uma libertinagem litúrgica. Nas religiões antigas o sexo e a música eram instrumentos que conduziam ao êxtase. Percebendo esse feminismo desfigurado, Paulo toma medidas radicais em nome da “ordem e da decência” (I Cor. 14:40). Lembremos que a ordem para ficar calado não era apenas para as mulheres. Se durante o culto aparecesse um homem que falasse outro idioma e se ali não houvesse alguém com o dom de interpretar, essa pessoa deveria ficar calada. Nas palavras do apóstolo: “Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus” (I Cor. 14:28)[58].
A teologia paulina da submissão não está apenas direcionada ao relacionamento homem-mulher. Paulo a usa para traçar um perfil do comportamento cristão. O termo técnico é hupotasso (submissão, sujeição)[59]. O texto clássico usado por aqueles que advogam a submissão da mulher ao homem (Efésios 5:22) é tirado do seu contexto imediato. O verso 21 , afirma: “sujeitai-vos [hupotasso] uns aos outros no temor de Cristo”. Nenhum teólogo em sã consciência ousaria dizer que essa perícope trata apenas do relacionamento homem-mulher. Em outros textos paulinos, hupotasso (submissão, sujeição) é usado para descrever as ações do novo homem no reino de Deus: Romanos 8:7, 13:1 e 5; I Cor 14:32 e 16:16; Ef. 5:21-22 e 24; Tito 3:1 e 2:5, 9 e Col. 3:18, etc.. Paulo queria evitar que acontece na igreja o que já era comum na sociedade secular – a insubmissão da mulher. “Ártemis [Diana] de Éfeso era chamada a virgem, não porque era de fato virgem, mas porque ela não tinha se submetido a um marido”[60]. Quando o apóstolo fala de submissão, ele tem em vista preservar os valores que poderão manter a harmonia na sociedade, na igreja e na família. Paulo traduz a doutrina da submissão como “considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fil. 2:3). Aqui está a superioridade da religião cristã. A ética cristã do Novo Testamento concebe o outro como superior – essa foi a ética vivida por João Batista (“importa que Ele cresça e que eu diminua” - João 3:30) e por Jesus Cristo (“... o Pai é maior do que eu” - João 14:28). Essa submissão tem como referencial a Vontade de Deus. Ser submisso não é humilhação, inferiorização, perda da dignidade, antes é viver a plenitude do plano de Deus para o homem. A síntese paulina é: “No Senhor, todavia, nem a mulher é independe do homem, nem o homem independe da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (I Cor 14:11-12). “Nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal. 3:28)[61].
A Virgem e a Prostituta no Apocalipse. Na escatologia neotestamentária o feminino assume duas facetas: a do bem e do mal. No discurso escatológico de Jesus as virgens representam a igreja (Mateus 25:1-13). Embora como o próprio texto esclarece que nem todas estavam preparadas à parousia. No Apocalipse os 144 mil são descritos como sendo “virgens” (Apoc. 14:4). A igreja é retratada como uma mulher vestida do sol que dá a luz ao Filho de Deus – ela se redimi ao trazer ao mundo o Salvador (Apoc. 12)[62]. No Apocalipse o feminino aparece glorificado como também desfigurado. A figura ímpia de Jezabel (Apoc. 2:20) vaticina apostasia e a falsa profecia. O conflito narrado é um encontro cósmico de profetas. É um novo Carmelo espiritual. A Igreja verdadeira possuidora do “espírito de profecia” (Apoc 12:17 e 19:10) e a Falsa com sua profetisa apóstata Jezabel. A riqueza de detalhes que Apocalipse 17 oferece lembra a figura histórica de Jezabel embriagada com o sangue dos profetas. Assim como Elias no passado, a igreja de Deus (“a mulher vestida do sol”) vencerá a igreja falsa (“a mulher vestida de púrpura”). No Apocalipse, Deus restaura o feminino e o glorifica. No capítulo 21 a Nova Jerusalém é comparada a uma noiva que sai ao encontro do seu noivo. No verso 9: “...Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro”. E no último capítulo a noiva faz um convite à festa: “O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve, diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22:17). Apocalipse mostra que embora o pecado tenha desfigurado o feminino, através do nascimento, vida, morte, ascensão e intercessão da “semente da mulher” (Gen 3:15), Deus restaurou o feminino e o glorificou.
A Bíblia narra a saga do feminino da fraqueza diante da Serpente ao triunfo final. Se em Eva veio a perdição, na consagração de Maria veio a Salvação. O pecado desfigurou o feminino de imagem de Deus e o reduziu a sombras de coisas deste mundo. Mas através da morte de Cristo, Ele elevou o feminino e o glorificou – a submissa agora foi exaltada! Assim como Cristo, através da “humilhação”, a mulher alcançou a glorificação (Filipenses 2).


CONCLUSÃO

O ideal a ser perseguido é o ideal do Éden, onde homem e mulher formavam uma unidade holística que expressava a imagem e semelhança com Deus. Para tanto, não precisamos apelar ao feminismo nem ao machismo para atingir essa meta. Se faz necessário uma reengenharia mental. No dizer dos escritores do Novo Testamento, uma metanóia – uma mudança na forma de pensar que afete nosso agir cristão[63]. Isso só será possível quando aprendermos a ler a Bíblia sem pressuposições teóricas nem carga emocional ou recalques psíquicos que interfiram nos resultados de nossa exegese.
As implicações práticas do desfiguramento do feminino são visíveis na violência familiar cometidas contra a mulher, nas injustiças do mercado de trabalho que não remunera adequadamente, no mundo acadêmico que a vê com suspeita, no mundo político, onde em alguns países tem reduzido as chances de concorrer de forma igualitária com os homens, na mídia onde é tratada como mercadoria, e até mesmo nas igrejas onde é submetida a um “silêncio do preconceito”. Ela pode até falar, mas não é levada a sério (“Tais palavras lhes pareciam um delírio, e não acreditaram nelas” – Lucas 24:11. O contexto é o anúncio da ressurreição).
Não podemos permitir que nosso inconsciente masculinizado individual e coletivo maculem a real imagem de Deus. Quando tentarmos mentalizar Sua face, não deixemos ser conduzidos por conceitos reducionistas e sexistas. Lembremos que Ele transcende as questões de gêneros. Mas em todo caso, se formos utilizar signos como referenciais didáticos, não olvidemos que a Imago Dei é homem-mulher. Que Deus também tem Seu lado terno, materno, amoroso, gerador, enfim, feminino.

[1] Sigmund Freud, O Futuro de Uma Ilusão, o Mal-estar na Civilização e outros Trabalhos, Vol. XXI (1927-1931); Moisés e o Monoteísmo, Esboço de Psicanálise e outros Trabalhos, Vol. XXIII (1937-1939). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Rio de Janeiro-RJ: Imago Editora, 1969).
[2] Urbano Zilles, Filosofia da Religião (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1991); Battista Mondin, Quem é Deus? – Elementos de Teologia Filosófica. (São Paulo-SP: Paulus, 1997).
[3] J.B. Phillips, Seu Deus é Pequeno Demais – Qual é a imagem que você faz de Deus? (São Paulo-SP: Editora Mundo Cristão, 1989); Donald R. Dyer, Pensamentos de Jung Sobre Deus – Profundezas Religiosas da Psique (São Paulo-SP: Madras Editora, 2003).
[4] Alfred Marshall (trad), The New Internacional Version – Interlinear Greek-English New Testament (Michigan: Zondervan Publishing House, 1976), 547.
[5] A expressão “personalidade de Deus” é ambígua. Etimologicamente, o termo “personalidade” vem de persona, que no mundo antigo era uma máscara usada em apresentações cênicas. Logo, per si, a personalidade oculta mais do que revela.
[6] A distinção epistemológica entre Teodicéia e Teologia é que a primeira é a Razão num ato solitário procurando compreender o mistério da Divindade. Enquanto que a segunda é a Razão auxiliada pela Revelação investigando o fenômeno Deus. Veja Régis Jolivet, Curso de Filosofia (Rio de Janeiro-RJ: Editora Agir, 1998), 287-288; Charles Hodge, Teologia Sistemática (São Paulo-SP: Editora Hagnos, 2001), 1-25.
[7] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991), 312.
[8] A habilidade conceitual dos hebreus os colocou em destaque como povo com capacidades notáveis de abstrações. Devemos lembrar que os homens que mais influenciaram o Ocidente estavam ligados às raízes hebraicas. Podemos citar Jesus Cristo, Paulo de Tarso, Karl Marx, Sigmund Freud, Albert Einstein entre outros. Ver “Judeus, Que Povo É Esse?” Revista Terra (São Paulo-SP: Editora Peixes, Dezembro de 2004), 44-55; Jacques Attali, Os Judeus, O Dinheiro e o Mundo (São Paulo-SP: Editora Futura, 2002).
[9] Uma evidência de que era possível conceber uma idéia límpida da Divindade foi a abstração do filosófo pré-sócrático Xenófanes (c. 580-460 a.C. aproximadamente): “Há um deus acima de todos os deuses e homens: nem sua forma nem seu pensamento se assemelha aos dos mortais”. (Frg. B23). Citado por Junito de Souza Brandão, Mitologia Grega (Petrópolis-RJ: Vozes, 1991), 1:28; Um outro fragmento trás: “Se a divindade é a mais forte de todas as coisas, só pode ser uma única (...), pois se houvesse dois ou mais deuses, não poderia ser o mais forte e o melhor de tudo. Portanto só pode haver uma divindade” (Pseudoarist., de Melisso, Xenoph. Gorg., 3, 3), citado por Gerd A. Bornheim (org), Os Filósofos Pré-socráticos (São Paulo-SP: Editora Cultrix, s/d), 34; Mesmo no antigo Egito com sua realeza divina e sua religião antropomórfica e panteísta, o monoteísmo eclodiu como instrumento unificador da política do Estado. Foi o caso do Faraó Amenófis IV (c. 1369-1353 a.C.), que introduziu o culto a Áton como o único Deus verdadeiro. O politeísmo foi restabelecido na dinastia de Tutancâmon. Veja Marvin Perry, et. All., Civilização Ocidental – Uma História Concisa (São Paulo-SP: Martins Fontes, s/d), 20; Claudine Le Tourneur d’Ison, “Aton, o primeiro deus único do Egito” in http://www2.uol.com.br/historiaviva/. Alguns historiadores crêem que as origens do monoteísmo egípcios remonta a adoração de Dyehuty que os gregos chamavam de Thot ou Hermes, o deus do tempo. http://www.egiptologia.org/mitologia/panteon/thot.htm; Teólogos, antropólogos, arqueólogos e historiadores têm defendido a tese de um Monoteísmo Primordial. Veja J.E. Martins Terra, Elohim, Deus dos Patriarcas (São Paulo-SP: Edições Loyola, 1987), 8; Karen Armstrong, Uma História de Deus (São Paulo-SP: Companhia das Letras, 1993), 15; Para uma melhor compreensão da Revelação Geral ou Natural nas culturas veja Don Richardson, O Fator Melquisedeque – O Testemunho de Deus nas Culturas Através do Mundo (São Paulo-SP: Edições Vida Nova, 1986); Freud tentou estabelecer um paralelismo não convincente entre o monoteísmo egípcio e o hebreu em Moisés e o Monoteísmo, Esboço de Psicanálise e outros Trabalhos, Vol. XXIII (1937-1939). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Rio de Janeiro-RJ: Imago Editora, 1969).
[10] A maioria das religiões orientais esposa o Panteísmo. Umberto Padovani e Luis Castagnola, História da Filosofia (São Paulo-SP: Melhoramentos, 1990), 63 – 90. No Ocidente alguns filósofos pré-socráticos advogaram o Panteísmo, entre eles, Parmênides (c. 450 a.C) e na Modernidade, o judeu holandês Baruch Spinosa seguido por Fichte, Schelling, e Hegel abraçaram essa teoria. Bryan Magee, História da Filosofia (São Paulo-SP: Edições Loyola, 1999), 17, 154, 156 e 158.
[11] Jack Miles, Deus – Uma Biografia (São Paulo-SP: Companhia das Letras, 2001), 41.
[12] João 14:9: “Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”
[13] Mario Veloso, O Homem, Pessoa Vivente (Brasília-DF: Alhambra, s/d), 111.
[14] Analisando a arqueologia da violência, Boff cita o resultado de uma pesquisa de René Girard sobre a hipótese das origens da violência: “Eis a palavra-chave de Girard: o desejo mimético (mimesis = imitação). O ser humano deseja o que o outro deseja. Um imita o outro. O desejo mimético, entretanto, é gerador de conflito, pois os dois desejam o mesmo objeto. Entram em rivalidade. Cada um quer tomar exclusivamente para si o objeto e com isso realizar o seu desejo. Para tal efeito, sente-se obrigado a excluir o outro. Esse conflito se agiganta quando entram grupos que coletivamente desejam. Quanto mais pessoas e grupos desejam o mesmo objeto, mais cresce a rivalidade, mais aumenta o conflito, mais se aguça a violência”. Leonardo Boff, A Voz do Arco-íris (Brasília-DF: Letra Viva, 2000), 51.
[15] Leonardo Boff, Princípio de Compaixão e Cuidado (Petrópolis-RJ: Vozes, 2000), 15.
[16] Leonardo Boff, Ética da Vida (Brasília-DF: Letra Viva, 2000); Ethos Mundial (Brasília-DF: Letra Viva, 2000); Saber Cuidar (Petrópolis-RJ: Vozes, 1999); Damy Ferreira, Ecologia na Bíblia (Rio de Janeiro-RJ: Juerp, 1992); Mauro Grün, Ética e Educação Ambiental – a conexão necessária (Campinas-SP: Papirus, 1996).
[17] Leonardo Boff, Princípio de Compaixão e Cuidado (Petrópolis-RJ: Vozes, 2000), 13.
[18] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (São Paulo-SP: Editora Cultura Cristã, 1990), 187-194. Para Santo Agostinho a imago dei era a capacidade intelectiva do ser humano (cf. De Trind. XIV, 8, 11; 1044) citado por Philotheus Boehner e Etienne Gilson, História da Filosofia Cristã (Petrópolis-RJ: Vozes, 2000), 184; Natanael B. P. Moraes, “Imagem de Deus e Ética” in Revista Teológica – Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Volume 5. Janeiro-Junho 2001, número1. (Cachoeira-BA: IAENE, 2001), 85-111.
[19] Maria Teresa P. Santiago, A Mulher Espaço de Salvação (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1993), 166-183.
[20] Monique Hébrard, Mulher e Homem – Uma Aliança de Futuro (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1993), 168.
[21] Bernardo Lerer (ed.), Tora – a Lei de Moisés (São Paulo-SP: Editora Sêfer, 2001), 7.
[22] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, (Tatuí-SP; Casa Publicadora Brasileira, 1991), 28. Colchetes acrescentados.
[23] Ellen G. White, Lar Adventista (Santo André-SP: Casa Publicadora Brasileira, 1973), 211-290.
[24] Historicamente, os Calvinistas defenderam uma condição pós-lapsariana do homem como um estado de depravação total. “Portanto, uma vez que a imagem de Deus é a perfeita excelência de natureza humana que refulgiu em Adão antes da Queda, [mas], ao depois, [foi] de tal modo corrompida e quase obliterada, que nada sobra da ruína senão o [que é] confuso, mutilado e infestado de mácula, agora [ela] se percebe nos eleitos, em certa medida, na extensão em que foram regenerados pelo Espírito”, João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã (São Paulo-SP: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 1:206.
[25] Isso está implícito na declaração de Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Ellen G. White comenta que esse conflito entre o homem e Satanás só é possível quando o homem se associa a Deus. Por natureza, o pecado foi uma aliança com o Inimigo. Através da aceitação de Cristo, a humanidade passa a ter “inimizade” com o Diabo e amizade com Deus. Veja Ellen G. White, O Grande Conflito (Santo André-SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981), 509.
[26] “E Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” e “Porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice...” (Gen. 6:5 e 8:21). Itálicos acrescentados.
[27] Na Mitologia Greco-Romana encontramos desde as prostitutas cultuais às deusas. Nadia Julien, Minidicionário Compacto de Mitologia (São Paulo-SP: Editora Rideel, 1992); Junito de Souza Brandão, Mitologia Grega, 3 vols (Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 1991). A emancipação da mulher no mundo secular e sua participação ativa na vida sexual foram responsáveis por fomentar a imoralidade. Esse era um quadro paradoxal. Se por um lado, havia uma liberação da libido em orgias, por outro, o pudor reinava em muitas famílias. Veja essas obras que mostram essas duas faces do feminino na sociedade greco-latina: Safo de Lesboas, Poemas e Fragmentos (São Paulo-SP: Iluminuras, 2003) e Aline Rousselle, Pornéia – Sexualidade e Amor no Mundo Antigo (Brasília-DF: Editora Brasiliense, 1984); Milton Torres, “A Sexualidade Romana até os Tempos do Novo Testamento”, Revista Teológica do SALT-IAENE. Volume 4. julho-dezembro-200. Número 2. (Cachoeira-BA: IAENE, 2000), 15-21.
[28] Mircea Eliade, O Sagrado e o Profano – a essência das religiões (São Paulo-SP; Martins Fontes, s/d), 122.
[29] Russell Chandler, Compreendendo a Nova Era, (São Paulo-SP; Bom Pastor, 1993); Will Baron, Enganado Pela Nova Era (Tatuí-SP; Casa Publicadora Brasileira, 1996); M. Basilea Schlink, Nova Era à Luz da Bíblia (Curitiba-PR: Irmandade evangélica de Maria no Brasil, 1992); Walter Martin, Como Entender a Nova Era (São Paulo-SP; Editora Vida, 1995); Leila Amaral, et.all., Nova Era – Um desafio Para os Cristãos (São Paulo-SP: Paulinas, 1994); Elizeu C. Lira, Radiografia da Nova Era (Tatuí-SP; Casa Publicadora Brasileira, 1995) e O Governo da Nova Era (Tatuí-SP; Casa Publicadora Brasileira, 1999); Leonardo Boff, Nova Civilização Planetária (São Paulo-SP: Editora Ática, 1994), 69-75.
[30] Recentemente, a pastora da Unitede Methodist Church, Karen Dammann, lésbica assumida, foi motivo de polêmica e levada a “julgamento” pela cúpula de sua igreja. Veja http://ultimosegundo.ig.com.br/useg/nytimes/artigo/0,,1551020,00.html
[31] O Adventismo não está imune aos ataques do feminismo desfigurado. A polêmica em torno da ordenação das mulheres e a criação de departamentos para aplacar a força do feminismo na igreja gera preocupação. Não queremos entrar no mérito da questão, apenas alertar que a Cultura nunca deve superar a Revelação. Para melhor compreensão do debate deste tema veja: Patrícia A. Habada e Rebecca Frost Brillhart, eds., The Welcome Table- Setteing a Place for Ordained Women (Maryland: Team Press, 1995); C. Raymond Holmes, A Ponta de Um Iceberg – A Autoridade e a Interpretação da Bíblia e a Ordenação de Mulheres para o Ministério (s/l e s/d); Nancy Vyhmeister, ed., Women in Ministry – Biblical & Historical Perspectives (Berrien springs, MI: Andrews University Press, 1998); Samuel Koranteng-Pipim, Searching the Scriptures – Women’s Ordination and the Call to Biblical Fidelity (Berrien Springs-MI: Adventists Affirm, 1995).
[32] Juan Arias, Jesus – Esse Grande Desconhecido (Rio de Janeiro-RJ: Objetivo, 2001), 158.
[33] Willaim Barclay teceu comentários interessantes sobre o homossexualismo no Mundo Antigo no verbete “Pornéia” do livro As Obras da Carne e o Fruto do Espírito (São Paulo-SP: Vida Nova, 1985), pp. 25 a 29. Para um estudo histórico mais detalhado veja K.J. Dover, A Homossexualidade na Grécia Antiga (São Paulo-SP: Nova Alexandria, 1994).
[34] Ortega y Gasset, Rebelião das Massas (file:///C/site/livros_gratis/rebeliao_massas.htm (123 of 139) [7/11/2001 21:34:39].
[35] Otto Borchert, O Jesus Histórico (São Paulo-SP: Edições Vida Nova, 1985), 222.
[36] Émile Morin, Jesus e as Estruturas do Seu Tempo (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1978), 55-74; Joaquim Jeremias, Jerusalém no Tempo de Jesus (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1986), 473-494; Russell Norman Champlin, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (São Paulo-SP: Editora Hagnos, 2001), 4:394-405.
[37] Provérbios 11:16; 12:4; 14:1; 31:10 e 5:3, 4, 5.
[38] Para melhor compreensão da influência platônica ou neoplatônica e do gnosticismo na Filosofia e Teologia cristãs veja: Santo Agostinho em Os Pensadores (São Paulo-SP: Nova Cultural, 1999); Bengt Hägglund, História da Teologia (Porto Alegre-RS: Concórdia Editora, 1986); Tony Lane, Pensamento Cristão, 2 vols., (São Paulo-SP: Abba Press, 1999); Alain de Libera, Pensar na Idade Média (São Paulo-SP: Editora 34, 1999); Etienne Gilson, A Filosofia na Idade Média (São Paulo-SP; Martins Fontes, 2001); Colin Brown, Filosofia & Fé Cristã (São Paulo-SP: Vida Nova, 1999); Philotheus Boehner e Etienne Gilson, História da Filosofia Cristã (Petrópolis-RJ: Vozes, 2000).
[39] Leonardo Boff, O Rosto Materno de Deus (Petrópolis-RJ: Vozes, 1986), 84-85.
[40] Idem, 85. Na Modernidade Rousseau e Freud irão propagar idéias semelhantes acerca do feminino.
[41] Monique Hébrard, Mulher e Homem – Uma Aliança de Futuro (São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1994), 37.
[42] Ana Miranda, “Ser Mulher” in Revista Veja – 25 Anos – Reflexões Para o Futuro (São Paulo-SP: Editora Abril, 1993), 127.
[43] Hans Küng, Igreja Católica (São Paulo – SP; Objetiva, 2001), 55-56.
[44] Elisa Martins, “As Donas do Púlpito”, Revista Época 21/06/2004 in http://revistaepoca.globo.com
[45] Cynthia Heald, A Jornada de Uma Mulher ao Coração de Deus (São Paulo-SP; Editora Candeia, 1999); Beverly LaHaye, A Mulher Controlada Pelo Espírito Santo (Belo Horizonte-MG: Editora Betânia, 1981); Kay Marshall Strom, A Mulher Maltratada, (São Paulo-SP: Editora Vida, 1995); Stormie Omartian, O Poder da Esposa Que Ora (São Paulo-SP: 1999); Jill Renich, Segure o Seu Marido (São Paulo-SP: Mundo Cristão, 1977); Paul Tournier, A Missão da Mulher (São Paulo-SP: Edições Vértice, 1988); T.D. Jakes, A Dama, Seu Amado e Seu Senhor (São Paulo-SP; Mundo Cristão, 1999); Elizabeth George, Uma Mulher Segundo o Coração de Deus (São Paulo-SP: 2000).
[46] Dolores Orasco e Rita Moraes, “O Poder de Salto Alto”, Revista Isto É. 10/03/2004. www.terra.com.br/istoe.
[47] No documento oficial editado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia intitulado Declarações da Igreja, há um capítulo que versa sobre a problemática da “Mutilação Genital Feminina” (Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 170-173.
[48] “Metrossexual, ou ‘metrosexual’ no original inglês, contração de heterossexual com metropolitano. Essa a sua definição: um empreendedor bem-sucedido, entre 25 e 45 anos, que vive nas grandes cidades e se preocupa com seu aspecto visual, se dedica a essa preocupação e gasta com ela, como fazem seus colegas gays do mesmo extrato social.Com uma diferença fundamental: o metrossexual é macho”. Sérgio Dávila, O Mercado “Descobre” o Homem Vaidoso (Folha de São Paulo, 20/07/2003) em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2007200311.htm
[49] Lothar Coenen e colin Brown (eds)., “Mulher”, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo-SP: Vida Nova, 20000, 1:1336.
[50] Para um estudo mais amplo da relação de Jesus com as mulheres veja Gerd Theissen e Annette Merz, O Jesus Histórico – Um Manual (São Paulo-SP: Edições Loyola, 1999), 244-248; Paul Hoffmann, A Herança de Jesus e o Poder na Igreja – Reflexão sobre o Novo Testamento (São Paulo – SP: Edições Paulinas, 1998), 28-31.
[51] Juan Arias, Jesus – Esse Grande Desconhecido (Rio de Janeiro - RJ: Objetivo, 2001), 170.
[52] Não é questionado o papel da mulher na divulgação da mensagem, mas sim sua postura durante a liturgia pública. Para uma compreensão melhor deste assunto e similar ver Nancy Vyhmeister, “Proper Church Behavior in I Timothy 2:8-15” e W. Larry Richards “How Does a Woman Prophesy and Keep Silence at the Same Time?”(I Corinthians 11 and 14) em Nancy Vyhmeister (ed.), Women in Ministry – Biblical & Historical Perspectives (Berrien Springs-MI: Andrews University Press, 1998), 333 e 311.
[53] Para um estudo sobre as tendências hermêuticas contemporâneas ver Gerhard F. Hasel, A Interpretação Bíblica Hoje (São Paulo – SP: Gráfica do SALT-IAE, s/d). Amin A. Rodor, “A Bíblia e a Inerrância”. Revista Teológica do SALT-IAENE. Vol. 2. Janeiro-Junho de 1998. Número 1.(Cachoeira-BA: IAENE, 1998), 1-22.
[54] Grifos e negritos acrescentados.
[55] Negrito acrescentado.
[56] O desafio não foi apenas no campo litúrgico. Posteriormente, o cristianismo teve que enfrentar múltiplos questionamentos na cristologia, pneumatologia, soteriologia, etc.. Ver Bengt Hägglund, História da Teologia (Porto Alegre-RS: Concórdia Editora, 1986), 13-93.
[57] É importante destacar o endereçamento dessas cartas de Paulo - uma estava localizada na Europa (Corinto) e a outra na Ásia Menor (Éfeso), atual Turquia, formavam o antigo mundo grego – conceito cultural usado para descrever a hegemonia de pensamento nesta região durante séculos. De forma especial, a Ásia Menor vive até hoje um dilema milenar por está geograficamente entre dois mundos: o Ocidente e o Oriente. A sua recente inclusão na União Européia mostra o desejo de se incorporar ao Ocidente sem de desvincular dos valores do Oriente muçulmano. Com isso queremos dizer que este estranhamento cultural que Paulo estava enfrentando era algo que estava amalgamado a própria história daquela região, tanto na sua história anterior quanto posterior. Para uma melhor compreensão do conceito geocultural do mundo grego ver Tiago Adão Lara, A Filosofia nas Suas Origens Gregas – Caminhos da Razão no Ocidente, (Petrópolis-RJ: Vozes, 1992). Volume 1.
[58] Negrito acrescentado.
[59] Outros escritores do Novo Testamento usaram hupotasso [submissão, sujeição] com a mesma conotação: Tiago 4:7; I Pedro 2:13, 18, 5:5, 3:1; Heb. 13:17 usa hupeiko (não resistir, se render) termo extraído do mundo militar.
[60] Nancy Vyhmeister, “Proper Church Behavior in I Timothy 2:8-15” em Nancy Vyhmeister (ed.), Women in Ministry – Biblical & Historical Perspectives (Berrien Springs-MI: Andrews University Press, 1998), 338.
[61] Pedro faz uma aplicação prática deste princípio à vida familiar: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher, como parte mais frágil, tratai com dignidade [como superior], por isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (I Pedro 3:7). Grifos e colchetes acrescentados.
[62] “No VT a verdadeira igreja é por vezes representada figurativamente por uma mulher (Isa. 54:5 e 6; Jer. 6:2). Quando a igreja apostatava, era comparada a uma mulher corrupta (Jer. 3:20; Ezeq. 23:2-4). A mesma figura aparece no NT (II Cor. 11:2; Efé. 5:25-32; Apoc. 17:1-3). Em Apoc. 12 a mulher representa a igreja verdadeira. Visto que ela é apresentada como prestes a dar à luz Cristo (ver vs. 2, 4 e 5), e posteriormente como sendo perseguida, após a ascensão de Cristo (vs 5, 13-17), ela representa tanto a Igreja do Velho como a do Novo Testamento. Compare-se Atos 7:38”. Francis D. Nichol, ed., Comentários Sobre Apocalipse (São Paulo-SP: Gráfica do SALT-IAE, 1984), 2:197-198.
[63] W. E. Vine, et all., Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento (Rio de Janeiro-RJ: 2002), 415.

Um comentário:

ton02 disse...

A "pessoa feminina" de Deus é o Espírito Santo, pois no original em hebraico, Espírito Santo é Ruach ha Kodesh, e essa palavra "ruach" tem artigo feminino. E ao longo da bíblia, notamos que os atributos do Espírito Santo são atributos geralmente aplicados às mulheres. Posto isso, podemos concluir que a trindade é uma família, tendo o Pai (YHWH), o Filho (Jesus), e a Mãe (Espírito Santo).

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